Sil Curiati é paulistana, amante do Rio,
ex-moradora de Miami, de volta à terra da garoa.
Curte comes e bebes, é nos jantares que dá em casa que ouve os maiores
absurdos publicados neste blog.
Vive com música nos ouvidos e nos pés.
Um dia será dançarina e fará
propaganda nas horas vagas.
Vive sonhando acordada, também.
30 Carnavais, mais de 120 cidades no currículo.
É estranho, depois de tanto tempo ausente, abrir essa página do blogger para postar. Mas tenho tido vontade de retomar o Salón, apesar de pouca inspiração para escrever.
Sempre fui da opinião de que a tristeza colabora com a inspiração. É uma mãozinha desagradável dando um empurrão que começa no coração e termina nas pontas dos dedos. E acontece que não me sinto triste, então fico buscando temas para ajudar, sem sucesso.
Hoje, por exemplo, é um dia feliz. Muito feliz. Me casei com o amor da minha vida, às 11h30 da manhã, em um almoço com a família. Um casamento depois de exato 1 ano do pedido, tempo que passou voando.
Arrumei as flores, criei um look noivinha de época. Só não decidi ainda como será a assinatura do meu novo (e longo) nome.
Tudo isso para lembrar algo que eu sempre disse e defendi aqui: acreditar no amor faz o amor acontecer. Sabe aquela coisa do filme do Kevin Costner, O Campo dos Sonhos, que ele ouve a frase "if you build he will come"? Lembro sempre.
O que a gente constrói atrai coisas semelhantes. E hoje foi a minha prova particular, e muito especial.
Sabe o que é legal de comemorar o aniversário fora? Ter a sensação de várias festas paralelas, em diversos fusos horários... Amigos daqui comigo (Los Angeles), amigos de Miami, que estão 3 horas a frente, pessoas queridas do Brasil me acordando, pensando que eu até já almocei (elas estão 6 horas adiante). Enfim, muita farra como eu gosto :) Acordei numa ressaca hoje! Pra celebrar os 30 não podia ser diferente, né? Fotos serão postadas, logo, logo.
Hoje descobri que tem shopping com loja americana aqui, sim. Mas é longe pacas, praticamente fora da cidade. E afinal, quem quer fazer shopping? Passeei muito e fiz a tarde de museus, todos de graça, hoje. Tomei brunch com champagne. E curti árvores e iluminações de filmes de terror.
Ah! Ensinei um caminho errado a 2 senhoras que me pediram informação. Foi sem querer, juro.
A cidade de Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal é bastante intrigante. Parece grande e pequena, ao mesmo tempo. De carro é infinita. E a pé não há muito aonde ir. É contraditória, com sua tranqüilidade nas calçadas, quase desertas, e suas ruas cheias de carros e carruagens puxadas por belos cavalos Manga-Larga. Fora duas lojas de grandes cadeias de roupas americanas e uma Starbucks, não vi mais nada que lembrasse o padrão das cidades deste país. Muita cultura local concentrada em 2 ou 3 ruas. Tudo parece feito para turistas. O fato de ela ser conhecida como uma cidade assombrada, inspiradora de casos estranhos, faz com que a cada encontro com uma pequena informação complementar a isso nos induza a acreditar piamente nas lendas e andar com os olhos atentos "watching my steps and watching my back". Tomei um Chai delicioso esta manhã, na Gryphon, uma casa de chás com um unicórnio na fachada. Uma mistura de chás fortes, um pouco de leite. Perfeito café-da-manhã. No fim da tarde fiz o almojanta em um lugar tradicional no Riverfront. A sobremesa é indecente e incrível: uma pecan pie como jamais provei na vida. Especialidade da região, que aliás, tem alguns dos doces mais atraentes e perfumados que já vi. Pra quem gosta de nozes, como eu, as árveres estão aqui, em Savannah.
Hoje fiz um caminho Lygia Fagundes Telles. Era florido no limite, tinha folhas secas na medida certa. Grades, poças d'água, raízes de árvores e calçadas esburacadas. Verde, cinza, rosa, marrom. Frio e quente. Lindo e apavorante. Ficava entre "Venha ver o pôr-do-sol" e "Potyra". Mas era de Lygia e mais ninguém.
Ontem passei no supermercado antes de ir pra casa e comprei várias coisinhas que eu queria fazer para o jantar, entre elas, palmito. Adoro palmito. O de pupunha. Passei horas tentando abrir o vidro e não consegui. Dormi sonhando com ele, acordei cedo e tentei abrir de novo, mas nada. Odeio estas embalagens mega-lacradas e duras, feitas para brutamontes. E olha que tô fortinha, levantando peso....
Ano especial. Já começou com este ar inspirado, leve, bom. Eu vou sorrir mais. Trabalhar menos. Me divertir mais. Amar mais. Rodopiar mais. Vou dançar de novo. Ter flores coloridas em casa, junto ao Daniel, minha árvore calva. Teria até um destes, se não parecesse tão bizarro... Vou despertar com alguma das 3.000 músicas que escolhi como boas, usando meu primeiro presente dos 30 anos que completarei em 2007, este ao lado. E vou fazer menos promessas e adorar as surpresas que me aparecem. Elas têm sido boas, e ficarão ainda melhores. 2007 é o ano. Acredite em mim. E seja feliz!
Neste blog quase abandonado faltava um post do mês 12. Para celebrar o fim de um ano quadrado, meio ratoeira, cheio de armadilhas e golpes de susto - caso seja único e solitário, este post. Se outros vierem atrás, ou mesmo um somente, ele ficará como o que abre o último mês do ano, o mesmo ano quadrado e sem saída, que como um túnel longo, revela uma luz lá na extremidade que desponta em 13 dias. Esta luz me trouxe a escrever. Hoje, São Paulo amanheceu com a cor de Miami. Você percebe as cores? Percebo nuances. A de hoje era igual, sem tirar nem pôr, à de Miami. Até abri os vidros do carro, às 6 da manhã, pressentindo a maresia no ar. Mas como é um ano de golpes, senti fumaça. Um dos dois pontos que diferenciaram São Paulo de Miami esta manhã, a fumaça. O outro era o exorbitante movimento de carros na rua, assim, apressados. Tão cedo, eu mal estava acordada, dirigindo como quem passeia em uma praia. Em Miami. Fiquei nostálgica. E São Paulo estava bonita. A luz quente e oblíqua resolveu pintar uma favela pela qual passei, e ela pareceu sair de uma canção de Chico. Alguma que celebrasse um morro como o da Mangueira, com poesia semelhante. Vi alegria naquela favela, sonhei que eles eram saudáveis e viviam bem, teriam por fim um Feliz Natal e Próspero Ano Novo. Sonhei por um minuto, até ser acordada por um buraco ameaçador de pneus desavisados. Lembrei-me de um livro que adoro, O Cortiço. Das relações humanas carnais que queimam em suas páginas. Quentes como o tom alaranjado que cobria a favela, esta manhã. Pensei nas pessoas, o quanto elas amam, o quanto elas querem, o quanto elas lutam, e o quanto elas desistem num piscar de olhos. Numa piscadela de um olhar furtivo, abrem mão daqueles que se fecham em paz ao seu lado todas as noites. Pelos mesmos motivos, casais riem juntos, se abraçam, beijam e rolam na cama, e casais se ferem, gritam e atiram travesseiros para que o outro durma na sala. "Eu achei um hambúrguer debaixo do travesseiro. Um hambúrguer meio comido, veja só", diria uma mulher justificando a briga, enquanto outra perderia o ar de tanto rir, e completaria com o carinhoso "Só ele mesmo...". Tudo uma questão de tempo. Dedicação. Vontade de dedicar-se. Envolvimento. Cumplicidade. Tempo, enfim, como eu já dizia.
Tudo isso passou pela minha cabeça, provavelmente entre 6 e 6h05 da manhã de hoje. No minuto seguinte, me peguei sorrindo em paz, porque meu anjo da guarda (que é um cara enorme e fortão, com voz de tenor e canta bem pacas) me soprou uma frase enigmática e esclarecedora: "É porque ainda tem muito amor aqui, e você sabe onde encontrar". E de repente, tudo o que eu vi, pensei, e vivi, pareceu fazer sentido.
Tudo na vida acaba um dia, isso deve mesmo ser verdade. Até as tradições. Repare como o "Parabéns a você" está ficando cada vez mais rouco, sem voz: as pessoas se reúnem ao redor do bolo, batem palmas, gritam, assobiam, iniciam um "Parabéns a você, nes...." e a partir daí já vira zona. Aplausos ruidosos para encobrir o tom desafinado dos poucos que tentam manter a música como fundo da celebração. Cada um num tom, num volume, numa velocidade. Bagunça, um montão de pique, um montão de hora, oras bolas, rá-rá-tim-tim-bum-bum. A realidade se assemelha à velha canção complementar dos caras-de-pau "eu só vim pra comer, o presente que é bom, esqueci de trazer."
Eu vim porque queria contar uma história. Estava com ela presa entre o peito e a boca do estômago, dando comichão, querendo sair... então corri e abri esta página em branco. Mas pareceu que a história já era. Está dormente, talvez com medo da exposição. Resolveu ficar quietinha aqui, como a criança que abraça a perna da mãe se escondendo do estranho que se aproxima e quer brincar. A história se agarrou em mim feito bicho-preguiça, feito bebê-canguru, porque é bem lá que ela se abrigou. Me disse baixinho que ainda não é uma boa hora. Mas que já, já. Está se preparando, quase pronta, madura. E pela primeira vez eu realmente compreendi o sussurro. Sorri, e aceitei. Porque eu sei que quando ela resolver se mostrar, ah... quando ela realmente sentir-se plena, meu amigo, ninguém segura! Será apaixonante.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente, y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca. Parece que los ojos se te hubieran volado y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma emerges de las cosas, llena del alma mía. Mariposa de sueño, te pareces a mi alma, y te pareces a la palabra melancolía. (...)
Quer mais? Neruda. Vai ser bom assim lá no abidigá-bidigô.
É como o periquito dela, que tristonho, dorme em seu ombro coberto por um pedaço de pano. Não tem atitude de periquito. Não tem olhar de periquito. Não tem vontade de periquito. Tem é uma carência, um chorinho preso na garganta, uma saudade do rabinho abanando. "Ah, sim... já foi um cachorro em outra vida", diriam. Um cãozinho bem tratado pela vizinhança, amigo da garotada e feliz da vida. Agora estava preso naquele corpinho verde e frágil, nem latir podia. Se aconchegava, então, no ombro da dona. Para sentir-se mais parte da família, como só os cães sentem. É como aquele senhor, negro e barrigudo, que se estático em uma foto, seria confundido com um trabalhador da roça de mãos calejadas e pele judiada pelo sol forte. Alguns cabelos brancos já surgiam, mostrando a idade mais apurada que a aparência, que insistiu em parar de mudar, como só acontece com personagens de livros. Mas não tem atitude de trabalhador rural. Não tem gestos de trabalhador rural. Não tem vontade de empunhar uma ferramenta. Atravessou a rua em dois saltos, e quase pude ver as pontas dos pés no ar, esticadas, e os calcanhares se tocando na troca do passo. Os braços foram leves, um ao céu, outro à terra, e naquele momento, quando sorriu com seu movimento, a barriga dura e grande parece ter sumido. Eu, pelo menos, não a encontrei. Foi quando pensei "ah, sim... já foi bailarina em outra vida". E me lembrei do periquito.
Na sua frente, eu odeio a raiva que retoma forças e aperta meu estômago. E este ódio potencializa toda aquela raiva, me faz me odiar por isso também. Mas é em contato com ela que compreendo sua verdadeira natureza: odeio sentir, então nego. E fica esta sementinha germinando, e eu amarrando seus galhos jovens aos outros velhos e podres para que eles tomem a forma que eu quiser e não me cutuquem mais. É na sua frente que eu sou meu máximo. Porque sou obrigada a reprimir a minha dor máxima, minha tristeza máxima, minha raiva máxima, e meu amor máximo. Só o maior amor do mundo tem a força capaz de abafar a fumaça do que se queimou, de segurar a tesoura aberta e impedí-la de cruzar suas metades e cortar mais um pedacinho do tecido que bordei aqui dentro. Aos que testaram meus limites e me fizeram reconhecer meu máximo, só tenho gratidão, nada mais.
Nós, mulheres, demoramos anos luz para nos aceitar como somos. As exceções são ETs, mesmo. Porque se bobear, dizemos que nos aceitamos só para posar de bem-resolvidas... no fundo sempre achamos que algo poderia ser diferente. Eu, finalmente, aceitei a cor do meu cabelo (sim, ainda no tema cabelos). Já fui loira, pintei de preto azulado, fiz luzes, o escambau. Ultimamente tenho me olhado no espelho e achado sua cor perfeita, linda mesmo. Mas ironicamente, o destino me pregou uma peça. Quando resolvo estar contente com o que vejo, surgem os temidos fios brancos. O que me faz pensar que logo terei que pintar, e ficar testando cores, retocando... ai que bode!
Quando lhe cortaram os cabelos, Sansão perdeu a força. A menina, perdeu a poesia. Quase sentiu-se garoto, ao fitar o novo rosto no espelho. Aqueles 5 preciosos dedos deviam conter o seu poder de rimar, ou de ver a vida mais cor-de-rosa. Não no sentido de ter sido mais bela, mas certamente cheia de laçarotes, rendas e babados, como deve ser a de uma garota insaciavelmente romântica. Agora ela toma conta de coisas mais ríspidas: papéis, pastas, saúde, dinheiro,calendários. Tudo o que não faz parte do mundo que criou pra si, aquele que a ensinou a pôr as manguinhas de fora para voar. De vez em quando se inspira um pouco mais pela carência de alguém que demanda cuidados, mas no fundo sente falta de sentí-la e ser cuidada. A menina comeu muito espinafre e gostou de ser Popeye. Por um tempo, é verdade. Já está começando a pensar em deixar os cabelos crescerem de novo...